Amor metódico

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Amor metódico

No amor, eram duas pessoas bem metódicas. Não gostavam de mudanças não. Manter a rotina, manter o ritmo da felicidade estava sempre em primeiro lugar. Essas duas pessoas trabalhavam todos os dias, exceto feriados e férias. Guardavam dinheiro para viagens que só podiam ocorrer durante as curtas férias ou feriados prolongados. Acordavam dando “bom dia vida” ou “bom dia meu amor”. Alternavam as visitas aos familiares. Coordenavam e revezavam os cuidados com a casa e com as crianças. Revisitavam lugares especiais do passado, sempre que possível, para tentar manter a história viva, relembrando momentos inusitados, divertidos, perigosos, dentre outros mais que a vida lhes trouxera. Naquele momento, nunca saiam da rotina. Não era algo trivial de ser feito. Eram extremamente habilidosos, algo que só vem com a experiência, com a prática e apenas em condições favoráveis de temperatura e pressão. Ora, pois querer não é poder. Acontece que um completo caos imperou durante uma boa parte da vida daquelas duas pessoas. Antes dessa boa fase, foram levados a aprender, a duras penas, aos trancos e barrancos. E tudo isso valia todo o esforço naquele momento e, sou levado a crer, valeria num futuro próximo quando o ritmo fosse quebrado. O ritmo era passageiro, a história também. O caos era eterno.

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Rafael Picanço, 28 de Dezembro de 2019.