A treva entre as estrelas
Cantando para um público seleto o meu sofrimento branco, paradoxalmente lembrei de meu passado negro. Passado bom. Porém, inspirava ali medo e terror em vez de amor e confiança, como se o suor fosse mesmo sangue escorrendo a esmo. Naquele momento, aquela audiência não olhava com os olhos de ver. Porém, a canção germinaria no coração de alguns daqueles seres, com o tempo, com o tempo. Porque a canção era negra. Era boa. Era bela. Era tudo para mim.
Naquele cruzamento de realidades, a arte era plena. Promovia a identificação com o que antes era indiferente, o debate, o combate às injustiças, o pensamento sábio e sereno. Mas naquela intersecção, e nas outras mais que viriam, não era trivial influenciar escolhas e decisões instruídas. Por isso, como arte, insultava, provocava e agredia. Causava o desconforto que mudanças substanciais e perenes necessitam para sairem do papel.