De acordo com a minha experiência ao longo de conversas informais sobre ontologia (sobre o ser), recordo de pessoas que não delimitavam o contexto quando falavam sobre o ser. Por exemplo, geralmente apresentavam um falso dilema do tipo:
Deus existe? Sim ou não?
Ingênuos são aqueles que pelo ímpeto do momento se põe a responder tal pergunta sem delimitar um contexto. A existência possui diferentes níveis, fique sabendo. Deus existe de um ponto de vista cultural, por exemplo. Mas isso é válido apenas se você está em sintonia com o conhecimento científico de seu tempo. Entretanto, não é difícil de testar esse fato.
Se uma pessoa afirma que Deus existe, e que considera Deus como sendo isso ou aquilo, e que por conta disso pensa que a terra é assim ou assada, Deus existe de um ponto de vista intelectual para aquela pessoa. De outra forma, se ela afirma que daria o seu tudo para o pastor por conta daquele Deus, e que doaria seu tempo, força produtiva e recursos de toda espécie, Deus existe, mas agora “não apenas no intelecto”, pois palavras não quebram ossos, mas de um ponto de vista prático para aquela pessoa e para aquela comunidade.
Prosseguindo, se ao observar historicamente as gerações anteriores você encontra pessoas que agiram concretamente e deram seu tudo, e doaram seu tempo e assim por diante, essas são razões mais do que suficientes para considerar a existência (note, agora persistente ao longo de gerações) de um ponto de vista cultural para aquela pessoa e aquela comunidade.
Por último, se aquela comunidade passa a enviar pessoas para outras comunidades (com culturas diferentes) para missões de evangelização, e passa a perseguir, escravizar, assassinar ou explodir outras pessoas que não aceitam tal evangelização, ou simplesmente passa a interferir na política ou finanças de um estado, bem meu caro convenhamos, Deus existe como cultura, para todos nós.
Você tende a não se importar com as coisas que não existem, colocando-se em posição desfavorável como sujeito e não ator de seu tempo. Eu me importo com Deus (deus, como preferir), ele existe para mim de um ponto de vista cultural, pois a cultura está por ai afetando a minha vida, mas ao avesso digamos assim, pois não recebo benção, apenas o devir do pecado. Trata-se de uma cultura essencialmente violenta e imperialista, em alguns casos, e que ameaça a minha própria existência em outros níveis da minha própria existência. Como não se importar?