O aprendizado de certas habilidades e o uso da tecnologia tem melhorado a minha qualidade de vida como pesquisador e melhorado a atividade científica que tenho exercido. O que faço a seguir é elencar algumas dessas habilidades e tecnologias, na forma de recomendações bem gerais. Espero que seja útil para você, e para mais detalhes sobre algo pergunte nos comentários. Boa leitura!
Aprenda e aprimore a língua inglesa
Você pode até optar por incluir alguma outra, mas o inglês sendo a língua universal é indispensável. Me arrisco a dizer que a vanguarda da ciência está escrita em inglês e a maioria dos manuais, instruções e linguagens de programação mais populares também. Simplesmente não tem como fugir. Reading, writing, speaking e listening cada uma dessas habilidades tem uma parcela de importância no seu ritmo ao longo da chamada Formação Continuada.
Aprenda o básico de uma linguagem de programação e automatize tarefas repetitivas
Eu bem lembro que na época da graduação, antes de aprender a programar, eu demorava horas editando, formatando ou analisando dados diariamente e cujo produto final era apenas uma análise estática. Essas horas poderiam ter sido gastas gerando código reaproveitável para análises subsequentes. Por não conhecer alternativas de graficação, gastava horas e obtinha apenas uma figura como resultado. Mas essas horas, novamente, poderiam ter sido usadas para a escrita de código reaproveitável para outras figuras.
Automatizar o tratamento de dados ou mesmo a análise de dados propriamente dita permite que sobre mais tempo para o descanço, para a família, ou, se você assim preferir, mais tempo para investir em etapas mais produtivas (ou interessantes) da vida ou atividade científica. Ferramentas como o R, gnuplot, matplotlib, python e JavaScript (para gráficos interativos na internet) podem ajudar na tarefa de automação da geração de gráficos. Adicionalmente, noções básicas de Algoritmos certamente ajudam em qualquer tarefa de programação e noções básicas de Programação Orientada ao Objeto e Programação Funcional podem ajudar na tarefa de gerar código reaproveitável.
É possível aprender tudo sobre programação na internet. Tudo bem, tudo bem, seria um exagero dizer que tudo veio da internet, pois amigos meus cientistas da computação me deram uma valiosa mão na roda me tirando dúvidas bem específicas. Mas eu bem lembro quando perguntava a eles como haviam aprendido aquilo eles frequentemente respondiam “cara, na internet”. Grande parte da documentação nessa área está disponível na rede, e isto é um fato.
Aprenda a usar os recursos de pesquisa avançada nas bases de dados e sites de busca
A chegada dos operadores ou filtros na minha vida foi uma revolução. Eu passei a encontrar muito mais rapidamente as informações que queria. Um dos meus operadores de busca preferidos no google, para dar um breve exemplo, é o filetype: que busca por tipos de arquivo específicos. Simplesmente uma maravilha. O Periódicos Capes, Scielo, Google Acadêmico, bases de dados da APA dentre outros, podem ser otimizados por meio de buscas com palavras chave e operadores lógicos.
Com essa habilidade, fica bem mais fácil de receber atualizações de pesquisas específicas, por exemplo, por meio dos Alertas do Google ou recursos de RSS e salvamento das buscas no Periódico Capes, e assim por diante.
Aprenda a usar um gerenciador de referências
Outra revolução foi a chegada do Zotero na minha vida. Sem ele as minhas referências e a minha base de dados pessoal estariam uma completa bagunça e eu me consideraria como o caos personificado na terra. Mas você deve escolher um programa que atenda as suas necessidades. Eu escolhi o Zotero porque ele possui uma versão para navegadores de internet e é open source. Sempre quando encontro algo realmente interessante, seja um video, notícia, artigo, entrevista, eu trato logo de criar uma referência e adicioná-la no Zotero. E é muito prático, pois na maioria das vezes ele faz isso automaticamente, bastando uns poucos clicks.
Aprenda a organizar sua biblioteca pessoal
Sempre que conseguir algo novo trate logo de organizá-lo na sua biblioteca pessoal. Não deixe para depois. O Zotero tem me ajudado a ser bem mais organizado nesse aspecto, como já disse. É muito mais simples organizar referências do que arquivos. Passei, então, a organizar todos os arquivos por data dentro de uma mesma pasta e apenas linká-los com a referência no Zotero. Os livros e toda a papelada, entretanto, ainda estão meio entulhados, pois ainda não tenho um espaço adequado para organizá-los. Assim que esse espaço surgir, eu organizaria eles por data também. Deixaria a organização por temas e eventuais notas para ser feita no Zotero. Eu basicamente transformei ele na minha bibliotecária.
Aprenda a organizar sua base de dados
Mas lógico, o Zotero não serve para tudo, depende do tipo de informação que está sendo armazenada. Os meus dados brutos, por exemplo, organizo por Participante > Data > Sessão > Registro ou seja, quatro níveis de pastas. Dentro de último nível existe um arquivo chamado METADATA.txt, que descreve brevemente os dados naquela pasta. As vezes adiciono um arquivo ERROR.txt, quando há o encerramento não planejado da sessão. As vezes adiciono um outro arquivo chamado NOTES.txt, com anotações livres. Sempre que possível, os dados brutos são armazedos em arquivos de texto *.txt, prontamente legíveis para simples conferência, mas tenho tido a necessidade de armazenar arquivos binários também, pois ocupariam muito espaço se o formato de texto fosse utilizado. O Numpy (numpy.save) tem sido muito útil para isso. Todos os arquivos são READ ONLY e eu procuro trabalhar em análises com cópias, nunca com os arquivos originais.
Aprenda a monitorar, facilmente, sua produção científica na internet
O Altmetric possui excelentes ferramentas para acompanhar a repercussão de trabalhos nas redes sociais e está integrado por padrão, por exemplo, na plataforma Springer. Basta acessar o link do artigo e você verá os indicadores no canto superior direito da página.
O Research Gate e o Academia.edu são duas redes sociais deselvolvidas especificamente para pesquisadores. Embora eu prefira o Research Gate, ambas permitem, dentre outras coisas, o monitoramento de seus trabalhos cadastrados.
Se você possui atividade no Web of Science, é possível obter automaticamente informações de citações por meio de um ResearcherID. Esse identificador pode ser utilizado para inserir automaticamente informações de citação (do web of science) no seu currículo lattes, por exemplo.
Aprenda a digitar com todos os dedos e sem olhar para o teclado
É difícil conceber alguém fazendo ciência sem computadores e teclados nesses tempos. A não ser que você tenha alguém que escreva tudo por você. Incontáveis são os artigos, congressos, relatórios, manuais, livros, blogs, e-mails, sites, linhas e linhas de código, enfim, a escrita por meio do teclado pode tardar, mas uma hora chega. Digitar com todos os dedos e sem olhar para o teclado agiliza sua escrita. Existem programas de computador especializados no ensino de Digitação. Muitos deles gratuitos. Muitos deles com feedback imediato de acertos e erros e registro automático do seu progresso e performance. Alguns deles inclusive com métodos planejados para o ensino da digitação especificamente no português do Brasil, iniciando os programas de ensino apresentando padrões frequentes da lingua.
Aprenda os atalhos de teclado de programas frequentemente usados
Se você tem um conhecimento razoável sobre “informática” (bem geral mesmo), certamente conhece bem o poder que o Ctrl-C e Ctrl-V pode representar na sua vida. Atalhos de teclado tendem a ser mais rápidos e práticos do que sequências de passos em uma interface gráfica por meio do mouse. O mouse possui suas utilidades, sim, mas tarefas repetitivas executas por meio de sequências de clicks tendem a ser mais lentas do que atalhos de teclado (geralmente montados com duas ou três teclas). Navegares de internet, e-mails, redes sociais, editores de texto, editores de fotos/figuras, editores de video, interfaces de desenvolvimento, todos esses programas possuem atalhos de teclado que tornam a vida muito mais prática.
Aprenda a manter backups de seus arquivos mais importantes
Por fim, seja na nuvem, seja por meio de HDs físicos, faça backup de seus dados regularmente. A importância dos arquivos e a frequência de alteração deles deve determinar se você os fará com mais ou menos frequência. Viver sem backups é simplesmente muito inseguro. Não há seguro que pague por anos de pesquisa e organização diligente e se há, além de eu desconhecer completamente essa modalidade, o dinheiro não devolveria o mais importante: o conteúdo e o tempo.