Esquiva
Há uma faca fincada no meu coração.
Metáfora, lógico,
para quem aprecia um pouco de ficção.
Como o teu olhar indiferente, fenológico,
de tempos em tempos cavando-me um vão.
Um olhar que só eu vejo
para evitar todo o desejo
de comer do teu pão
com presunto e queijo.
Friso, presunto… apresuntado não.
Pois o que seria de mim, Amor maior,
sem a esquiva ao amor platônico?
Apenas um desalmado vário,
ronronando, atroz, solitário,
sem a coragem de te chamar pelo nome.
Como não se esquivar?
Por você, Amor,
que me estancou o sangramento,
mesmo que o trauma permaneça um tormento,
como não se esquivar?
Há uma faca fincada no meu coração.