A cura
Não sei se a máquina funcionará, mas será necessário uma ligação física entre nossos sistemas nervosos. Você está muito doente e muitas lembranças, muitas memórias já foram perdidas. Essas memórias simplesmente não tem volta. Tudo o que já se esvaiu do seu pensamento não poderá ser compartilhado comigo. Mas eu ainda lembro de muitas coisas, e eu poderei compartilhar com você. Nós teremos de aprender a coordenar um novo sistema, ter controle de tráfego entre nós mesmos, permitindo alguns comportamentos, suprimindo outros. Teremor de aprender a coordenar uma nova forma de consciência verbal, falando, calando, ouvindo nos momentos certos. No início será “movo o teu braço como se fosse eu”, “movo o teu braço como se fosse você”, mas no final apenas o movimento e o silêncio. No início será uma inundação de pensamentos e uma confusão de possibilidades. Mas a cada momento que conseguirmos um pouco mais de coordenação, um pouco mais de sintonia, cada vez mais nos tornaremos um só. E somente a máquina permitirá esse aprendizado a partir do momento que a ligação correta for feita. Mas, simplesmente, não sei o que irá prevalecer, se o aspecto degenerativo do seu sistema ou a saúde do meu. Só nos resta a esperança de uma eventual cura coberta por um temeroso romantismo de tentar, falhar e morrer por amor, juntos.