Inexistência

filosofia de boteco e significado


Inexistência

Nesses tempos pós modernos, qualquer um munido de alguns argumentos e fatos históricos é bem capaz de dispor à apreciação pública uma “desconstrução” de termos, expressões, sentidos, etc. O que antes fazia sentido, após a desconstrução não faz. Ainda mais, o que antes era uma premissa, agora não é. Há a possibilidade de se desconstruir qualquer sentido que se queira, ao bel prazer mesmo, como um tipo de masturbação mental com inevitáveis “conclusões precoces”. Mas a tal desconstrução a la Michel Foucault certamente não é para qualquer um; tudo bem, certamente isso deve ser notado. Mas entenda que “dispor à apreciação pública” não significa aqui necessariamente uma mudança em larga escala dos costumes, práticas, preconceitos, tradição de pensamento, rotina e, por que não, da importância de uma visão de mundo e de eventuais crises existências que acompanham cada um.

As acepções de um dicionário podem servir para uma “desconstrução” útil. Veja só, ao observar diferentes maneiras de se definir um termo específico de um mesmo idioma, alguém conhecedor da propriedade mutável da linguagem não se espantaria nem um pouco com as variações nas acepções de documentos formais, de ampla consulta e supostamente normalizadores, os dicionários. No meu pensamento:

“Ora pois, ora pois, as palavras são por natureza mutáveis. Não há razão para se buscar um significado essencial, constante e imutável. Tal coisa simplesmente não existe. Isto não quer dizer que os significados não existam… eles existem, mas não como entidades constantes, apenas como características efêmeras e passageiras da história da humanidade. Também não significa que o mundo não exista, o único mundo eu me refiro. Aliás, também não significa que a linguagem, de um ponto de vista evolucionário, não necessite de aspectos orgânicos duradouros e/ou comuns para ocorrer e permitir uma sociedade como a nossa.” (Eu mesmo, 2013)

Reconhecendo essa propriedade da linguagem, os estudiosos que lidam com documentos históricos e pesquisam com zelo procuram ser cautelosos ao descrever os assuntos de uma época longínqua. De fato, não apenas a linguagem muda, sua forma, estilo coesão, mas todo o contexto no qual ocorre. A utilidade de se reconhecer aspectos sutis como esse deveria ser evidente para quem lida com a produção de conhecimento, formação de opinião, etc.

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Rafael Picanço, 7 de Dezembro de 2013.