Entre o humano, um fígado

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Entre o humano, um fígado

Ciente da minha condição humana,
de ter vindo sem pedir,
ter sido jogado, coitado,
do décimo andar de um ventre,
a toda sorte ou azar,
aos ventos e eventos
de um mundo poluído,
indiferente…

Eu temo, pois não, não faltam motivos para o medo:
do holocausto de Hitler ao 11 de setembro de Osama.
Do plástico nos oceanos ao Él ninõ, supostamente,
de ninguém.

Desde muito cedo, aprendi a desconfiar e,
sabendo que o amor é coisa do capeta,
nutro em mim um sentimento infinito e flatulento,
que, de dentro pra fora, cresce.
Meu peido se expande de leste a oeste…

E, por amar com a fé de quem sabe que 2 e 2 são cinco,
faço uma prece:

“Oh Verso da Espada,
do Alcorão,
não me afetai!
Não me açoitai!
Não quero, pois,
essa paz que tu anuncias,
que mais parece um longo sono
no caixão!”

Sigo doando abraços, limpinhos, que não se medem!
Assim, fico mais perto
do meu tão sonhado
emprego…

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Rafael Picanço, 7 de Outubro de 2013.