Ele me pareceu tão esquisito. Não me pareceu nem feio nem bonito, só estranho mesmo. Uma umbra magra, do pé batido aos óculos remendados, num trapo só. Como eu poderia ter reagido diferente naquela manhã de segunda-feira? Acho que as pessoas que passassem por aqueles corredores e virassem o rosto para a janelinha da sala, num relance, encarariam a imagem dele como um mero devaneio, um ver na ausência da coisa vista. Mas tal peripécia da imaginação não pôde ocorrer comigo, eu tive de entrar na sala, tropeçar nos saltos, cair, catar as folhas pelo chão, levantar, até sentar ao lado dele. Mico. Era o único lugar, enfim. Ele disfarçou ao olhar para mim e me pareceu tranqüilo. Apresentou-se num tom sedutor cavernoso de grave. Bó bó bó. Olhou para o meu decote mais que cara-de-pau! Ignorei, fiz menção ao professor que já havia iniciado a aula.
Ela entrou, tropeçou nos saltos, caiu. Fez um sorriso modesto para disfarçar o constrangimento e saiu catando as folhas pelo chão. “Desastrada”, foi o que pensei quando vi a calcinha dela, meio a amostra para quem estivesse na minha posição; e arredores talvez. Tão delicada. Branca com detalhes azuis. A calcinha, lógico. Ela mesmo era gostosa. Camisa hipponga com a folga certa no decote descido, deixando mostrar o modelo esportivo sustentando bem os tamanhos normais. O professor foi esperto, tratou logo de ir ajudar, conseguiu a visão privilegiada. A moça era nova na sala. Demorou para ver o único lugar disponível; por sorte ao meu lado. Me apresentei com toda a educação, mas ela só fez uma expressão contida de surpresa, não respondeu, apenas apontou para o professor… vai entender.