Nunca quis teu coração

desejos invisíveis


Nunca quis teu coração

Nunca quis a eternidade,
basta-me a longevidade
Sempre quis que o tal Bocage
me ensinasse a lhe dizer
tudo aquilo que eu calado,
preto, sujo e desalmado,
engolia sem querer,
engolia sem querer.
Afobado e sem piedade,
nunca teve vaidade.
Esse pinto endurecido,
pra foder e nada mais,
como fruto não maduro,
cospe longe, sem futuro,
pinguelando vai sem paz,
pinguelando vai sem paz.
Desbravando-lhe o perigo,
fica apenas pau inimigo,
chove tudo sem molhar,
Balangando solidão,
o membrudo carrancudo,
soca fundo, bem profundo,
noutra linda dimensão,
só mesmo outra dimensão.
Escrevendo essas besteiras,
de piroca e bucetão,
é ali no imaginário,
violentamente farto,
que queria te tocar,
especialmente tocar
tudo exceto o coração,
tudo exceto o coração.

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Rafael Picanço, 15 de Junho de 2006.