Bicicleta

pedalar, guidon, garupa


Bicicleta

No estilo tupiniquim,
sem teu gosto de maçã,
acordou pela manhã,
já não guarda mais segredos,
alimenta-se o desejo
de um vestido de cetim,
sem teus lábios, sem teu beijo,
não botou o sutiã,
pega forte no guidon,
sem tocar-se no selim,
sem tocar-se, puro e casto,
pura, casta, já não sabe…

já não quer, mas sabe, sim.
Sabe, sim, ah… sabe, sim.

Sobre aquilo que tu juras,
renegando a falsidade,
não manter mais no passado,
com princípio de incerteza
caminhando como presa,
rebolando sobre o rim.
Pensa tu… termina assim?
Sem um tostão de gentileza?
Sem maresia e destreza?
Só aroma de amendoim?
Já vestiu-se, agora aguarda.
Pensa em nada, vai na estrada.
Pedalando vai, voou…
num caminho decorado,
meio torto, transviado,
molhando-se no jardim
um lugar já batizado
meio impróprio, bem armado,
sem destino, desalmado,
Pedalando vai, voltou…
bem distante, já não sabe…

já não quer, mas sabe, sim.
Sabe, sim, ah… sabe, sim.

E com aquel’ar de mistério,
invisível, preto, velho,
Num momento já pausado
bem no fundo registrou:
Que a ninguém jamais dará
nem carona na garupa,
nem volume na calçada,
nem pedido com nanquim.
Que ninguém jamais notou-lhe
a tristeza restaurada,
a saudade devastada,
nem sentiu-lhe até o fim.
nem sentiu-lhe até o fim.

E ninguém jamais olhou
E ninguém jamais sonhou
e lhe viu assim-assim…
bem distante, já não sabe…

já não quer, mas sabe, sim.
Ai, ai, ai… ah… sabe, sim.

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Rafael Picanço, 1 de Abril de 2019.