Sokera

hard, sim, hardcore


Sokera, primeiras impressões

Acabei de comprar o EP do Sokera (2015), uma promissora banda fruto de nossa querida Belém. As minhas primeiras impressões foram sendo construídas ao longo dos vídeos postados pela banda no SokeraTV e pelo facebook. E como não podia deixar de ser quando o troço é bom, me invadiu a mais singela expressão, bem paraense por sinal:

Égua, du caralhu manu.

Ahh… o bom e velho hardcore. Banda formada na primeira metade de 2014 e os caras já estão destruindo em peso. Ai você me pergunta, 2014, mas como assim “velho”? Não se afobe, minha querida, meu querido, pois o Sokera não carrega nada de velho no mau sentido. Os caras estão a todo vapor, mas com a experiência que só a prostituição musical é capaz de prover. Eles estão esbandalhando e não esbandalhados. E se há ainda alguma dúvida, fiquem sabendo, reservo esse “bom e velho” com um certo saudosismo, que muito me faz lembrar o sentimento daquelas tantas bandas que me ajudaram a enfrentar a adolescência e sair dela com vida. Mas você realmente pode encontrar razão ao preferir, talvez, um “bom e calejado hardcore”.

Os integrantes

Mesmo um quase hermitão como eu deve reconhecer, quem nunca ouviu falar do Zé Lucas (Vocais) na cena, que quase chega a dispensar a tag? Eu mesmo já tropecei inúmeras vezes com o Paulo “Bigfoot”(guitarra) em pleno trampo lá no estúdio (Fabrika) do seu Jayme. E foi uma grata surpresa (e lembrem que sou um quase hermitão) nomes novos como Felipe Martins (guitarra), Matheus Pinheiro (baixo) e o fodástico Alexandre Lima (batera).

Um excelente serviço

Eu frequentemente dou atenção primeiro à batera; nada mais natural, pois sou baterista. Mas a primeira faixa do EP, Mentiras, foi de fato uma excessão. Faço questão de esclarecer os motivos de centrar esses meus breves e modestos comentários na figura do Zé Lucas. Simplesmente não é comum encontrar um gutural berrado em português, com clareza, potência e com alguma preocupação com a interpretação. Outro motivo para a tal excessão foi a letra. Como todo admirador de Bad Religion talvez fizesse, eu interpretei Mentiras como um câncer socado no cú de líderes religiosos corruptos. Eis uma das frases de efeito:

Minha revolta ignora o seu Deus.

Mas o meu pensamento foi além nessa música, e encontrei motivos para uma crítica à preguiça religiosa, aquilo que foi chamado pomposamente de “Terceirização de escolhas existenciais” por Marcelo da Luz, no terceiro capítulo de seu livro “Onde a Religião Termina?”, que por sinal precede o capítulo sobre o discurso religioso como manipulação da consciência. Eis o trecho que ilustra esse pensamento:

As tuas verdades são mentiras
Contraditoriamente “a favor da vida”
Eu não vou - te dar opção
Do chão - levanto, eu recupero o que é meu com minhas próprias mãos.

Na faixa, Família, a família aparece como uma liderança que deve provar o seu valor, ao ponto de merecer confiança e também, por que não, alguma fé? Aliás, todos nós devemos trabalhar para, com alguma sorte, vir a sermos reconhecidos por nossos méritos.

Família, família
De sangue ou da vida
Com fé, confia
Não entrega “as ficha”

Só não vai ser otário e confiar em qualquer um
Ás vezes quem estende a mão é só pra te empurrar
E na real quem se diz aliado tem que provar

Prosseguindo, espero que o quê escrevo agora não seja confundido com uma reclamação apática e inerte, como bem ilustrada na faixa Fala demais. Não estou reclamando! rsrsrs

Você fala demais
Mas não faz nada
De nada valem as suas palavras
Apatia é sua definição
Reclamação é sua única ação!

Um excelente serviço II

Com todo respeito, agora devo destacar as viradas fodas do batera. Em “Fala demais” achei ele meio que respondendo ironicamente ao “você não faz nada”… “Você não faz nada batera!”, “Não faço é? Então toma virada” e dalhe virada, dalhe virada. Dou destaque novamente a “Mentiras”, os fills alternados quase como chiliques entre chimbal e cúpula, chimbal e tambores, tambores e cúpula ficaram excelentes, aliás ao longo de todas as músicas.

Há aqui, talvez e por fim, uma questão de cú. Cada um com o seu. Por exemplo, eu mesmo não gosto de pedal duplo. E embora eu não seja fã de pedal duplo, devo reconhecer que o senhor Alexandre fez um serviço muito bom nas viradas distribuindo single strokes com todos os membros (sem viadagem nessa porra). Mas devo dizer, também, mesmo com a modesta experiência que tenho, nem tudo são flores quando a velocidade aumenta para nós bateras. Eu realmente acho que um pouco de criticismo as vezes é bom, e para que isso não soe como mera implicância, dou meus argumentos. Embora eu considere que engolir notas, ou notas ligeiramente fora do tempo como parte inerente ao punk rock, quando a coisa “evolui” para o hardcore, ou melhor, para o metalcore, as exigências são outras. Eu realmente não faço a mínima questão e para mim tudo ficou maravilhoso, mas há quem faça… E se é que vocês me entendem, isso vale para todos, não apenas o coitado do batera.

Os finalmente

Bem, eu não quero aqui esgotar os assuntos, nem secar a saliva deixando esse post imenso. Quero apenas parabenizar a todos os outros músicos e envolvidos pelo excelente trabalho. Como vocês devem saber, nossa arte sempre pode e deve melhorar, por isso terminar com um pouco de criticismo as vezes cai bem. Desejo boa sorte e muito trabalho ao Sokera. E olha só, é bom lembrar que tem um show foda vindo aí:

Lançamento do Crowdfunding Groover - Pé Preto 26/09/2015

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Rafael Picanço, 15 de Setembro de 2015.