Papai

feliz dia dos pais


A gente vai crescendo e vai mudando a forma de falar, de se expressar. Começa a falar mais sobre um assunto, falar menos sobre outro. Algumas palavras acabam ficando mais frequentes do que outras. No meu caso, não sei o porquê, mas um “Eu te amo” emotivo nunca fez o meu estilo. Foram raras as vezes. O padrão eu chamaria de timidez inexplicável, sentimentos inexprimíveis. Mas eu me expressei de outras formas.

Demonstrei a minha admiração pela sua desenvoltura ao falar, pois eu o imitava, sempre tentei chegar próximo daquele grave. A gargalhada espalhada na frente da TV, quanta alegria. O magrão que vos escreve aprendeu a trocar de canal 50 vezes por minuto com destreza. Aprendeu a cuidar das plantas no quintal, regar, capinar, podar, inclusive plantou uns feijõezinhos. Até o gosto pela leitura eu pude desenvolver. Comecei riscando os livros, mas ainda recordo do Zezé, daquele primeiro livro (Meu pé de Laranja Lima) e do Pequeno Pequeno, esse com mais ilustrado se eu me recordo bem. Eu corri na praça, fiz alguns apoios. Aliás, tenho de voltar a malhar, mas nem tudo é perfeito.

Na rotina diária, tanto no Apolo quanto na Mendonça Furtado, eu lembro de esperar o papai chegar do trabalho. Assim como também lembro de esperar o papai sair para o trabalho… Lembro de uma ocasião lá no Apolo na qual eu e Carla tínhamos acabado de ganhar um monte de tintas guache. Esperávamos apenas a saída do papai para botar para fora toda a nossa criatividade naquelas folhas de papel. Eis que ele sai e a criatividade foi tanta, que transbordou para o corpo, para o chão, para as paredes. O problema é que ele voltou, em menos de uns 6 minutos, pois havia esquecido a carteira.

“O que mais importa é o ato e não o valor da coisa roubada”.

Tamanha é minha admiração pela sua coragem ao exigir honestidade e zelo daqueles que não o fazem a contento; quantas foram as pizzas que voltaram por conta de um fio de cabelo ou outras coisas indevidamente depositadas? Quantas vezes a geladeira nova entregada com amassados foi retornada? Quantos atendentes de tele-marketing insuportáveis ficaram surdos após seu grito de descontentamento “Eu não sou o seu patrão”? Quantos não foram as lutas, quantas não são? Um grande exemplo, você sempre foi um grande exemplo. Eu só quero honrar a família, com algum orgulho. Felicidades!

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Rafael Picanço, 11 de Agosto de 2012.